domingo, 13 de novembro de 2011

Dr. Katatoviski

Certa noite após beber muito - algo como chá mate gelado - para esquecer um amor perdido resolvi ligar para meu analista, o Dr. Katatoviski, ele me disse que sempre que tivesse uma crise psicanalítica, política ou para abrir um pote de azeitonas eu poderia ligar para ele, de qual qualquer modo tenho evitado, acho que aquela vez que ele foi fantasiado de Carmem Miranda cantando Leãozinho no meu ouvido não tenha sido uma nova abordagem, como ele mesmo me respondeu na outra consulta quando foi de fantasiada de Madonna em ‘Like a Virgen’ para testar o modo como meu libido pode ser explorado – feitishismo abstrato a garotas não comidas na juventude – como ele mesmo disse.

          Ele me atendeu, ele perguntou o que eu sentia, eu disse “Dr. Katatoviski, estou me sentindo muito só, meio tonto, sem fôlego, como estivesse em uma música do Carlos Gardel onde meus amigos e minha me abandonam, meu cachorro manda seu advogado dizer que me rejeitou por justa causa pelo fato de  eu ser um bundão”. “Não se preocupe Sr. M.” (vou evitar meu nome), isto é apenas uma disfunção sexual, ou como o grande Mestre Freud disse, cape umas ninfetas enquanto elas não te capam”, “doutor , tem certeza que o Dr. Freud disse tal coisa?”, “Quem falou em Freud seu panaca, eu falo do Dr. Fred  o médico que eu vou caçar  girafas nos fins de semana”, “doutor, não existem Girafas no Brasil” , “Cale-se , para Wittgenstein você é apenas uma troça para a lingüística existencial do salaminho, nem por isso deixo de falar com você”.

Assim nossa conversa acabou, e resolvi como ele havia me dito tentar sair com alguma garota que não tivesse três olhos, ou usasse os tênis ao contrário para representar a ‘Pachacha Mamma’ como minha ultima namorada antropóloga. Mandei algumas indiretas pela internet, alguns emails, mensagens pelo celular, na verdade cogitei até sair com minha mãe, mais me lembrei de Édipo Rei, e que tinha uma consulta com o oftalmologista na outra semana, me sairia muito caro sangrar meus olhos. Depois de muito desespero e ter lido a obra completa de Proust sobre culinária francesa arrumei uma garota para sair, seu nome era Alice M., conheci ela na faculdade, mas sempre só nós encontrávamos naquelas festas onde tocavam a vanguarda de musical contemporânea, futuros corretores de imóveis e vendedores de carros chineses. Quanto ao M. prefiro não dizer o porquê, só digo que é um apelido dado pelos seus amigos viciados pelo vicio dela em certa substância que fazia Bob Marley se tornar um titã das sonecas antes e depois do almoço.

Fomos a um barzinho, bom som, jazz, mesas de madeira, uma cerveja barata e um calor infernal, um típico acasalamento nos trópicos para pessoas de baixa renda que se recusarem qualquer matéria que não tivesse leitura de Rousseau ou Quem Comeu meu Queijo para iniciantes. Conversamos sob gostos artísticos, eu disse que adorava Modigliani, ela disse que adoraria chupar os pinceizinhos do Pollock, eu falei que estava aficionado por grupos de música folks da Groelândia, ela me disse que já havia dado para uma orquestra completa com oboés, pratos e dois maestros. Perguntei se ela gostava dos romancistas russos, ou preferia a crítica social dos franceses, ela me disse que lia Paulo coelho com um copo sobre o livro, coisa que eu achei inverossímil, mas aceitei. De qualquer modo foi um encontro daqueles, fomos para meu apartamento, ela resolveu acender um cigarro para selar nossa relação naquela noite, na verdade meses depois descobri que ela fumava aquilo porque era homossexual, mas eu lembrava uma tia que ela sempre teve desejos kafkianos.  Naquela noite deu meu máximo, fiz todas as posições possíveis e imagináveis em meu 1 minuto e 30 segundos, quando dormimos.
No outro dia acordei melhor, até consegui ler um livro de Saramago lançado post-mortem, “Ensaio sobre dobradinhas e outras iguarias do Alentejo”.   E uma introdução do Harold Bloom para Shakespeare “como seu tênis e sua calça apertada e um desvio de Hamlet e dos cânones literários ocidentais: uma interpretação da literatura para pessoas burras que acham que  Hemingway e melhor que Goethe, e Goethe e melhor que fazer sexo numa sexta feira com uma mulher chamada Carla na realidade”.

Depois desse dia continuei saindo com Alicia. M, até um dia que ela apareceu com uma prima que usava roupa de homens e ficava apalpando ela, enquanto eu chorava por Bergman ter matado Deus, e Simenon ter descoberto que era apenas um engodo para passar mercadorias para a Suécia pelas fronteiras da Macedônia. O que eu descobri no final das contas aqui foi simplesmente que não se pode amar todas, mas se conseguir dormir com a maioria e ainda conseguir recitar William Blake em seus ouvidos vestido de Virginia Wolf é uma grande coisa.

2 comentários:

  1. lol ..cara muito maluco...aew eu tenho um brogui tambem ...contemporanyworld.blogspot.com

    ResponderExcluir