quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre o consultório Médico

         Estava eu uma manhã destas na sala de espera do Hospital, enquanto esperava que chamassem minha mãe para uma consulta na qual a acompanhava como bom filho que sou, resolvo neste ínterim ler o livro que havia levado comigo, “As intermitências da morte” de J. Saramago. Ao que me vêem um idoso, bem velinho, com seus mais de oitenta anos, senta-se na minha frente, debilitado, maçãs murchas, olhos caídos, meio babado, meio vomitado. Espera que lhe consultem, olha para min com a cara de um cachorro velho, com aquelas sobrancelhas rústicas e pesadas. Estava na parte do livro em que a morte escreve uma carta dizendo que resolverá matar novamente assim que soar os badalos do outro dia, Penso nesse momento assustado, sé me morre agora este velho, se por alguns minutos ou segundos a morte resolve parar de matar para respirar e logo começa a passar sua foice pictórica. Leio cada palavra como sendo a última deste ancião a minha frente, penso “vai levá-lo , vai levá-lo, pare de ler” Sinto-me alguma coisa culpada, idéia idiota , pressinto então o
poder definitivo da literatura, este é algum tipo de misticismo  das letras, dos cabeças vazias, dos que acham que um livro pode mudar o mundo, que podem palavras da morte escrita por um português interferir em uma cidade nos trópicos do Brasil. 
                O velho após alguns minutos vai para sua consulta, a morte ainda não chegou para ele, ainda que se espera que falte menos tempo para ele do que para eu que sou jovem. Mas fica-me o semblante da morte, sinto-a rondando, a morte são as letras, e a interpretação da metafísica de um medo, assim como a guerra, saudade ou mesmo impotência sexual. As intermitências do Sexo será mais real então do que da Morte? Penso que não, são todas palavras que dizem o medo que nós temos, pululam dos livros para nossa mente, para a vida, que pode ser tão bela e metafísica em uma sala de espera de hospital na chuva, com todo um mistério humano , terror, ânsia do que em uma aventura amorosa qualquer. As palavras, sempre as Palavras.

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