terça-feira, 1 de maio de 2012

Identidade Kétzez



Az Égből dühödt angyal dobolt
Riadót a szomoru Földre,
Legalább száz ifjú bomolt,
Legalább száz csillag lehullott,
Legalább száz párta omolt:
Különös,
Különös nyár-éjszaka volt
.
Do alto do céu um anjo enraivecido
tocou o alarme para a terra triste.
Endoidaram cem jovens pelo menos,
caíram pelo menos cem estrelas,
pelo menos cem virgens se perderam:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Endre Ady. Emlékezés egy nyár-éjszakára(Recordação de uma noite de verão).

Fernando Rodrigues Kétzez. 24 anos, solteiro. Filho de Mãe Portuguesa. Pai, Sr. Kétzez. Húngaro, Ateu. Kétzez filho quer ser escritor. Acorda todo dia às 8 da manhã. Sempre tem dor de cabeça e nos olhos. Fuma um cigarro. Vai ao ginásio. Na volta toma um banho, bebe chá gelado e fuma outro cigarro. Estuda idiomas. Inglês, Frances, Russo, Italiano, Húngaro, este último já fluente na idiomática. Quer ser tradutor e professor de literatura. Quer buscar suas origens. Seu pai tem medo da modernidade. É um pária em seu país estrangeiro. Não deseja contudo voltar as terras magiares; Designe, cores, gosta do diferente. Gosta do roxo. Odeia laranja. Odeia pessoas que não respeitam a si mesmo e suas origens. Odeia seu afeto as origens, gostaria de romper tudo. Todos os outros húngaros que conheceu são filhos de Judeu. Ele é um caso parte. Seu pai saiu da Hungria porque era ateu, porque não havia estudado e tinha que descarregar caminhões com caixotes de verduras vinda do interior no mercado de Buda, Em peste conheceu um poeta com nome estranho e engraçado FERNANDO PESSOA! Surpresa, Lisboa do Tejo ancestral, decidiu largar tudo – ou nada -  aos 25 e ir para a cidade da praia mais ocidental européia; Salazar é o pequeno papa local. Não existe lugar pior para um ateu, húngaro, sem instruções básicas; Resolvi ir ao Brasil, lá poderia ler Fernando Pessoa, lá havia muita terra, iria encontrar uma comunidade húngara, iria plantar a terra de dia, a noite iria ler, quem sabe terminar os estudos. A guerra estourou. Leu Drummond “Sentimento do Mundo”, não serei poeta de um mundo caduco; Leu  Florbela Espanca “Sonetos”. Chorou, Resolveu amar uma nativa, conheceu Amália, de Azinhaga, nem as paredes confessaram suas noites de amor com um calor trôpego; Casaram, em 58 Kétzez terminará o ginásio que em sua infância não pôde; Nasceu seu filho, Fernando, em homenagem a Pessoa e à sua esposa portuguesa. Para que seu filho tenha mais sorte do que nos campos vai para São Paulo; Estuda , vê seu pai sempre lendo, entretanto sabe que ele não é um intelectual; Aos 15 começa a trabalhar no escritório de um grande jornal. Aos 18 entra na universidade de letras eslavas. Começa a publicar contos anônimos no jornal como Johannes Niëf. Um redator o descobre um dia em um canto do escritório usando a maquina de um jornalista ausente. O convida para escrever nas páginas policiais; Descobre Raskólnikov de Dostoievski. Descobre também Jair Picada. O primeiro preto pobre furado por balas com o crânio sovado e os olhos para fora das orbitas; Escreve de forma apaixonada pela miséria da moral. Ninguém é tão superior assim por coisa alguma. Aos 23 se forma. Aos 25 traduz seu primeiro livro húngaro, dois anos depois em russo; Se dedica contudo ao húngaro. Aos 26 termina seu mestrado, aos 30 o doutorado. Larga o jornal para se tornar escritor e professor na Universidade. Seu pai morre aos 32, deixa como herança além de seu nome em comum, seu amor aos magiares, um baú com recordações, cadernos de apontamentos. Revive a infância pobre do pai; Seu avô Kétzez da o ensino primário, morre contudo em uma de tantas revoluções do Império Austro-Húngaro decadente. Abandona Jászapáti , então com 18 anos e vai para Budapeste. Mora em pensões, pega a gripe espanhola. Não morre, mais ao desfalecer sendo cuidado por amigos, pede um livro , fausto de Goethe. Sua vida nunca mais seria a mesma após essa intervenção. Lê muito, trabalha muito. Mais Pessoa foi à pedra angular em sua vida.
         Kétzez filho com 33 deseja conhecer o país de seu pai. Pensa nele como as rapsódias Húngaras de Liszt. Uns pais pobre, comunista, contudo muito culto e alegre. Vai para Hungria.

//===========////===========////===========////===========////===========//

Se surpreende com Budapeste. Se surpreende com o comunismo taciturno. Se surpreende com Ägota. Poetisa, romântica pelos trópicos. Kétzez diz que em sua cidade as pessoas não são tão frias, contudo são pobres almas, deitadas por militares, que ao menos os comunistas dão educação e casas, em nossa terra todos negros morrem, fala da primeira vez que viu um homem pobre morto e teve que escrever sobre aquilo; Em um mês que no inicio seriam uma semana, se casa com a poeta para que ela possa vir morar no Brasil. Faz pós-doutorado na Alemanha, é convidado para dar aula em Frankfurt. Aceita. Vai morar com sua esposa, seu filho nasce, ele já tem 38. Aos 45 resolve voltar ao Brasil, quer que seu filho sinta alguma identidade. Sua esposa morre no parto da segunda filha. Homenageia de Amália Espanca Kétzez. Seu filho se chama Carlos, por Drummond. Este aos 15 tem seu primeiro coma alcoólico. Aos 20 larga duas faculdades, uma de medicina e outra de economia. Um dia lê um poeta húngaro, Andre Ady. Diz que vai morar na Hungria, país que estava se abrindo dos anos de comunismo. Após dois anos consegue cidadania Húngara. Entra na universidade de Eotvos Lorand, no departamento de língua portuguesa. Aos 26 se forma, faz mestrado e doutorado. Conhece uma portuguesa que faz farmacologia; Ela conhece Ady, aos 30 anos eles se casam. Seu pai morre sem nunca ter visitado o filho depois de ele ter ido para Hungria. Ele chora. Le Ady, bebe a noite toda. Ele diz que sua raiz não significa nada, pois seu choro impregna a terra inteira.


Tema sugerido para leitura:


Nenhum comentário:

Postar um comentário