Regularmente
três vezes por semana Luiz Emanuel escrevia um bilhete que se repetia a frase, “a
aquele que ler esse pequeno papel saiba que quem o escreve é um ser só, que como uma maquina antiga sem
serventia nesses tempos modernos ou uma pilha a se reclicar escreve à alguém
que o saiba em busca de um amor que ao encontrar esse bilhete sem pilhéria e comigo
se junte em afinidade eletiva”. Contudo Luiz Emanuel não se apercebia dos
bilhetes que punha ao lixo nos dias de coleta, que não sendo como garrafas ao
mar logo se perdem na maquinaria e nos entulhos, se tornando se muito xisto
para produção de energia nas fábricas aludidas sustentáveis.
Assim
os dias foram passando, aos que se interessarem Luiz Emanuel era de V., região
com seus quase dois milhões de habitantes, esperava ele que entre estes
exatamente 1.751.71 pessoas que o lesse, isso descontando os analfabetos, que
poderiam assim mesmo se interessar por uma mensagem e talvez se alfabetizarem para
ler, outros tantos que abandonam esse teatro mundano para outras paragens, que
seja pela idade carcomida dos velhos ossos, da luta inaudível em becos escuros
ou pelo acaso qualquer que nos abandona a própria sorte na atuação sem ensaio
como escreveu certa poeta. Além desses a os muitos desterrados que buscam
outras direções, e esses são muitos dessa terra de transatlânticos. Por fim os
nascidos que são muitos e desses muito novos não se espera tal metafísica de
solidão pois ainda estão no útero ou no sobejo materno tão bom em nossas
infâncias.
De
outro modo não diferente do destino humano os dias foram se sucedendo, os
climas quentes, e úmidos, as friagens que para um pobre Alemã é um grandíssimo
verão, passava-se os governos dos Trabalhistas e dos Social Democratas e ficava
o caminhão do lixo , os bilhetes e sua solidão errante. Mas por medo do destino
errar ao seu encontro, resolveu a muito escrever variadamente bilhetes em
profusão, nas mais um bilhetinho, mas vários postos, aumento gradativamente, pensou
ele que em quantidade maior suas possibilidades aumentariam, contudo há que se
der ao fato que escrevia todos a mão, odiava as maquinas amórficas da
modernidade que o fazia sentir um certo sentimento de aluir ao todo, queria ao
seu modo ser ele mesmo.
Lá
pelas tantas passado alguns meses ou anos quiça, ao que nosso personagem novo
ao tempo não sentindo muito seu senso da idade que o impregnava a pele e vendo o telejornal local matutino enquanto
escrevia os tantos bilhetes viu e ouviu a noticia “agora meus caros cidadãos de
v. , a região metropolitana fará um acordo de reciclagem de lixo, a todos então
aqueles que desejarem nesses primeiros meses separem seu lixo selecionado nos
dias pares, da seguinte maneira, etc...”. Luiz Emanuel teve uma visão, talvez
agora dessa maneira melhor seu amor encontraria em um saco de lixo de papeis
seu bilhete, contudo como selecionado e sustentável quereria fazer algo
diferente, e assim todos os dias de coleta escrevia algum bilhete relacionando
ao seu amor perdido, o primeiro foi do seguinte modo “A aquele que ler esse
bilhete de um homem solitário que busca seu amor em um local ao qual o destino encontra,
pense que nesses tempos onde todos julgam-se no planeta e em sua salvação com
práticas não degradantes ao ambiente guarde esse bilhete e não o desperdice”.
Assim foi por uns tempos, em dias que amanheciam chuvosos escrevia “Nesse dia
chuvoso ao papel que não se molhar nem a dama que este aqui ler saiba que por
um amor busco, etc...”. Outro dia no interim, durante um período lá pelas
tantas de chuva e sempre cinza resolveu modificar um pouco e escreveu um poema
de Pessoa “O dia deu em chuvoso, Já acordei meio triste de amanhã, E o dia deu
em chuvoso...” .E por ai começou a escrever não somente suas percepções como
pequenos poemas.
Foi
na mudança de governos, “sensato povo que elegeu os trabalhistas, que pensam estes
nos mais desfavorecidos, no bem estar de toda população brasileira”. Em outros
anos falava dos opositores “Que os sociais democratas modernizem o país e ao oposto
do último governo limpem as maquinas de todo inchaço desses políticos e
sindicalistas que se aproveitam da burocracia Estatal ,etc...”. Nesses dias politizados
escolhia ao fim um poema de Drummond , Da Rosa do Povo ou Sentimento do Mundo,
alguns até Maiákoviski. Em outros menos politizados escrevia poemas diversos.
Um dia contudo resolveu do próprio punho tentar explorar seu sentimento, sua
solidão e tristezas e as vezes sua felicidade que se dava por algo mais
sublime, mas como tão pessoais como todos poemas são resolveu para si guardar”.
Assim passaram os anos, e Luiz Emanuel terminou a faculdade, começou a dar
aulas, continuo a estudar no mestrado, e continuou a mandar as mensagens nos
dias de coleta de lixo, já muito desesperançado.
Muitos
diriam que Luiz Emanuel era homem feito e poderia achar um amor como fazem
todos nas mesas de bar, nos shows de rock ou mesmo com amiga de amigos como
comumente ocorre. Mas Luiz Emanuel era um tipo diferente como mesmo ele sabia
já nos primeiros bilhetes, ponderava que seu modo estranho era fora do modo
comum, meio fechado à seus livros e suas
ideias mirabolantes, fugindo daquilo da moda e assim sendo emborrecido aos
outros.
Mas
o destino que levou Odisseu de volta para os braços de Penélope fez algo
curioso ao nosso macabumzio escritor de lixeiras. Um dia no centro de triagem
por um acaso percebeu uma catadora um bilhete com um poema, viu uma beleza
tremenda, neste dia fora escrito um
poema de Cora Coralina no dia das mulheres “Que pretendes, Mulher? /
Independência, igualdade de condições.../ Empregos fora do lar? / És superior àqueles / que procuras limitar.
Tens o dom divino de ser mãe/ Em ti está presente a humanidade.” . Logo a
recicladora fora perguntar de que região veio aquele papel ao logo que
coletores que lhe informaram que viera de V. A isso a coletora todos os dias
esperava algo que da li viesse, e percebeu que realmente vinham sempre
mensagens, poemas e todos esses começou a colar no muro na área de descanso dos
trabalhadores . Já com o muro repleto, até que um dia parou de receber os tais
bilhetes na reciclagem, mas já fora o bastante para que a todos que liam os
poemas se interessassem mais e começassem a reciclar livros e a ler de forma
que um dia em um desses passeios escolares para que os jovens saibam a onde vão
parar seus papeizinhos de bala e seus
brinquedos perdidos ou quebrados , juntos foram levados com um grupo de professores que acompanhavam os
alunos para conhecer uma biblioteca dos trabalhadores do local. Ao chegar perguntaram de quem fora a ideia, e como aquilo havia chegado nesse modo, que
uma logo respondeu que fora a primeira a perceber os poemas e mensagens que
chegavam pelos caminhões de coleta, de um certo Luiz Emanuel que titulava um
“homem solitário/ em busca de um amor/ no mar da urbe/ que e seu lixo/
que diz a todos/ de verdade quem é./ E nada digam no futuro/ Que por meu amor
busquei.” Fora esse último poema escrito e depois a já alguns meses nenhuma
mais chegava, contudo tão bom eram os poemas que todos resolveram ler um pouco
mais e assim foi indo. A professora de português percebendo os vários poetas
dos bilhetes na parede da área de descanso agora tornando em uma biblioteca de
qual parte da cidade partiam os bilhetes e se sabiam quem era Luiz Emanuel que
escrevia os poemas, a nenhum soube responder mas disse que poderia ficar com o
poeminha e se quisesse por ele saber um dia voltasse para falar quem era esse
poeta apaixonado dos lixos”.
A
professora de literatura, em extrema curiosidade procurou por esse homem de
nome Luiz Emanuel, nas listas telefônicas, nas livrarias e bibliotecas, até
pela Internet e nada de se deparar com esse homem de alma singela e sincera,
que lhe dava certa tristeza em imaginar tão só. Como todas histórias que devem
ter lá seu final feliz ou ao menos aceitável como um teatro onde se morre ou se
beija a donzela a professora participando de um encontro de literatura na
universidade por um acaso se da em uma sala errada onde se discute os contos de
Veríssimo , o filho. E um palestrante comenta um sobre um casal que se encontra
ao depositar ao lixo, e como o autor trabalha a questão relacionada do que se
pode ser vendo o lixo de outro. A professora ficou extasiada e após o termino
das comunicações fora conversar com o palestrante e perguntou de forma singela
seu nome pois havia de fato gostado muito de sua análise do lixo , do amor e da
literatura, Há que esse respondeu que se chamava Luiz Emanuel, professor titular
de literatura nesta universidade, do mesmo modo ela respondeu , e você como se
chama, Maria Aparecida, professora de português na escola i., e declamou aquele
último poema, ao mesmo momento Luiz Emanuel ficou pálido, atônito para saber
como havia ela descoberto tal poema, de onde haveria de ter posto a mão nesse
bilhete, respondeu então sobre o ocorrido do passeio e de sua curiosidade ao
ver os poemas e as mensagens tão sentimentais e verdadeiras. Ao passo que os
dois pelo dia afora ficaram conversando na cafeteria até que viessem pedindo para fecharem o local. Nesse ínterim falaram de tudo de suas vidas e nada
esconderam como se todas as mensagens fossem ágoras resumidas em um dia, toda
sua vida, seus dissabores, sua solidão ,
suas leituras dos poetas que como ele amaram e vivera, explicou o porque dos
bilhetes ao lixo e de como era antiquado, mas Maria Aparecida gostou de como
era Luiz Emanuel, e por muitos conversaram e por outros tantos saíram, e logo
por um dia juntaram o que tinham, e começaram a compartilhar seus lixos que
pelo que se tinha sabia-se um casal feliz, ainda que em anos eleitorais os
trabalhistas e os social democratas dividiam meio a meio o saco de papel com
seus santinhos.